domingo, 25 de março de 2018

Bastar-se



Este mês de março está sendo um mês difícil por muitos motivos, pessoais, de dentro de casa, pessoais de fora de casa, como o assassinato político de Marielle Franco, que foi executada por ser mulher negra ativista. Está sendo muito duro. Estou tão exausta, que me pego não querendo falar nada. Minhas aulas desses últimos dias foram aulas políticas, falando sobre direitos humanos, falando contra o fascismo, o racismo, o ódio contra os oprimidos. Sexta falei sobre Tarsila do Amaral, do Abapuro, capa do Raízes do Brasil, livro basilar pra se entender as psicoses do país, e Operários, o meu favorito, que coloca os artistas (Mário e Oswald) como trabalhadores operários também, porque vida de artista é um sofrimento só.

Mas daí que março é mês do aniversário da minha caçula, e o mês do meu natalício. Acabei de completar 41 anos, sem vontade de comemorar. Eu nunca gostei do meu aniversário. Na verdade, parei de gostar lá pelos doze. Como não gostava do meu, muito porque nunca foi bom pra me fazer gostar - meu pai morreu na minha infância, minha mãe não ligava, nunca foi pra uma cozinha fazer um bolo de aniversário pra mim, tampouco se preocupava em comprar um - levei a vida assim, sem ligar. Pro meu. Já dos outros, filhos, amigos, eu sempre dava um jeito de fazer algo, festinhas temáticas, balões, cartões cheios de amor, gosto tanto de comemorar o aniversário alheio, que até já trabalhei com isso. Mas, este ano está difícil.

Além de tudo o que já contei, de todo esse peso, há tudo o que tem acontecido nos últimos quatro anos ou, pensando bem, nos últimos onze anos, que me levou ao ponto de uma quase concreta solidão. Tenho filhos, gatos, cachorro, plantas, livros, música, minha arte e, está bastando. Acho, talvez, que meus amigos, os que sobraram (muuito poucos) devem se aborrecer comigo, pela minha patente ausência. Desculpa se magoa, mas, nesse momento, eu me basto.

Não é que eu não sinta falta das pessoas queridas, não é egoísmo (talvez seja), não é algo pensado, elaborado, planejado, está apenas acontecendo.

Não é que não se precise das pessoas, mas acontece que as pessoas não querem que se precise delas e não vão ajudar caso se precise. Isso em termos gerais. Tem aquela parte da música dos Beatles, What would you think if I sang out of tune? Would you stand up and walk out on me? - Comigo, a galera walk out on me. E todos estes walk out on me depois que eu pedi ajuda. Eu adoraria viver a parte da música do  I get by with a little help from my friends, mas não está dando. Ou já deu, nessa época sombria e cínica em que vivemos.

Aos demais, que não entendem a minha ausência, foi mal aê, mas esta ariana aqui, tem lua em touro, e guarda mágoa de caboclo.

Inté.

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