sábado, 10 de fevereiro de 2018

Cinco bolas de sorvete por 1 real



Descobri esta semana que tem uma filial do Sorvete do Juarez quase de frente pro Iguatemi, o shopping mais pop da cidade. Iguatemi que não é o mais rico (este é o RioMar das Dunas), não é o mais besta (também fica pro RioMar das Dunas), tampouco o mais bonito (Deo Paseo), só que é o mais pop sim. Apesar de toda uma tentativa de manter os suburbanos nos seus devidos bairros, com a enxurrada de shoppings meia boca espalhados pelos confins da cidade.

E o Sorvete do Juarez? Bem, esse aí é uma entidade. Ou, ao menos, virou uma espécie de entidade de uns seis anos pra cá, desde que o Instagram deixou de ser apenas pra iPhone e socializou a coisa dos registros e selfies em rede social de fotografia (e agora vídeo, chat, etc coisa e tal). Mas e o Juarez? Pois é, Seu Juarez era um senhor maravilhoso que criou uma família toda com a fórmula de sorvete que criou pra sobreviver. Era tão bom, que fincou raízes e fez sucesso ao longo das décadas, adoçando a boca de algumas gerações de cearenses das aldeotas. Infelizmente, Seu Juarez faleceu dia desses, mas seu sorvete entrou pra história de Fortaleza, virou tradição e com filiais espalhadas por uma certa região da cidade, digamos, mais abastada: Av. Barão de Studart, Avenida Engenheiro Santana Jr., Av. Santos Dumont, Av. Washington Soares, todos endereços nobres da cidade. 

O que eu quero dizer com isso?

Vamos lá, primeiramente #ForaTemer, em seguida que o sorvete é sim excelente, mas eu que sou suburbana criada entre a Vila União e o Montese, nunca ouvira falar do Sorvete do Juarez até uns poucos anos atrás, por motivos óbvios, porque suburbana e pobre que era, sorvete pra mim era só quando recebia o salário, o velho Kibon (antigamente, Sorvane) napolitano e no resto do mês, quando dava, era com o carro de sorvete (cinco bolas de sorvete por 1 real... tragam a vasilha e que depois virou: já temos a vasilha). E daí que, de repente, esse povo que, como eu, tudo criado tomando banho de chuva na bica do vizinho, comendo jambo das calçadas, jura de pé junto que tomava sorvete no Seu Juarez desde sempre e, ainda me tem a pachorra de afirmar que é o sorvete do coração de Fortaleza. Oi? E desde quando a elitista Barão de Studart é coração da cidade? Que eu saiba, o coração de qualquer cidade é o Centro e o Centro meu povo, não é a Aldeota, a Varjota e o Papicu. Centro é Praça do Ferreira, é a Praça José de Alencar, é a Praça dos Leões, é a Castro e Silva, o Passeio Público, é a Liberato Barroso. 

Eu, como pobre sinistra e atrevida, super acho que temos todo o direito à cidade, a tomá-la de assalto e andar bem afrontosos por ela toda. Um dos meus prazeres ocultos é andar de chinelos havaianas pelos lugares metidos a besta da ensolarada Fortaleza, seja na hamburgueria da troca de tapa ou em qualquer outro lugar hipster e metidinho, simplesmente porque eu nunca deixarei de ser quem eu sou, uma suburbana pé de chinelo e descabelada. Mas é só isso mesmo. Não vou inventar história da carochinha e dizer que me criei tomando sorvete de tapioca do Seu Juarez, quando a verdade é a que descrevi, das cinco bolas de sorvete por 1 real e, que meu ápice era a Sorveteria Tropical no bairro de Fátima (hoje... 50 Sabores), quando minha mãe ia pra novena na Igreja que batiza o bairro ou vice-versa, isso porque o bairro de Fátima é vizinho da Vila União, meu logradouro de origem.

Eu nunca irei entender que mania que esse meu povo tem de ser brega, porque negar as origens é brega que dói. Ser pobre não é brega não. A gente tem ao nosso lado Paulo Freire, Malcom X, Lampião, um monte de gente corajosa e bacana. Vocês não acham, não? Só lamento que seu Juarez não era da Vila União.

Inté.

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