sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

O que mexeu comigo em 2017 - Livros e afins



Foi um ano duro, como eu já falei, um desdobramento de todo o peso de 2016 (e caso não tenha sido ruim pra você, parabéns), mas a gente sempre encontra um jeito de tentar sublimar a treta que, no meu caso, é através das artes: um livo novo, uma série, filmes, etc. E deixarei aqui o que salvou meu ano em termos livrísticos.

Livros.

Li pouca coisa nova em 2017. Reli muitos livros queridos, aliás, um velho hábito. Reli muitos trechos do Sopro de vida da Clarice, os diários da Virginia. Mas comecei umas leituras novas, uns nomes meio que inéditos pra mim. Confesso que não gostei da maioria, não por ser ruim, mas por não gostar, simplesmente por não gostar. E eu não sou aquela pessoinha que vai amar a Tércia Montenegro simplesmente porque todo mundo de Fortaleza ama a Tércia Montenegro. Ou a Socorro Acioli. Apesar de que não há defeitos na escrita dessas moças, apenas não me permite fruir. 

Clubes de leitura

Aí teve essa coisa dos "clubes de leitura" aqui por Fortaleza. Bem, clube de leitura é um negócio vintage, data do século XVIII. Na Inglaterra, nos idos das irmãs Brontë e da Jane Austen, era o hit do inverno. Eu acho a ideia uma fofura e, como professora e apaixonada por literatura desde que me entendo por gente, acho lindo, e faço votos de que fique pra sempre. Contudo, não é pra mim. Se eu participasse de um, haveria de ser algo bem mais intimista, quase como uma coven de bruxaria.

O ano teve um livro pra mim.

Falando em bruxaria, coisas sobrenaturais, o livro que marcou o meu ano, eu me dei de presente em março, no meu natalício, e foi A Garota Submersa, edição linda da editora DarkSide, que eu super queria que me apadrinhasse, mas né? Confesso que comprei o livro pela capa, pela beleza. É um dos meus livros mais lindos: capa dura, sem informação alguma na capa ou na contracapa, com dorso em rosa choque e aqueles arabescos e libélulas sobre o preto que envolve a história de India Morgan Phelps suas sereias e lobisomens. E que história. É assustador, é sensual. É lacaniano e lovecraftiano. Sensacional. Comecei a ler de verdade mesmo numa rua cheia de árvores da antiga Jacarecanga. O fronte das árvores assomando em sombras pelas páginas, ornando com a diagramação. Um livro estranho, uma leitura estranha, duma leitora estranha.


O livro fala de águas turvas da memória, dos contos de fadas de Perrault, dos mais assustadores. Exala do livro um cheiro agridoce, um miasma de alguém que já viveu ou foi sensato um dia. Há maresia nas entrelinhas e nas garras dos lobos, dos corvos e das sereias que se deparam com o Dália negra. Não é pra gente boa da cabeça. Não é um livro que faz bem. É pr'além de triste. É soturno e ineficaz, incompleto. E continua, como quem se depara numa rua sem saída, mas que tem um muro com heras que te chamam a pular. O pulo no abismo, no canto das sereias, com corais e águas vivas adornando os cabelos cor e de lodo. Boa sorte pra quem quer se perder. Ou submergir.

Inté.

Imagens: Girl on the river, no livro A Garota Submersa é atribuída a Phillip George Saltonstall, foi inventado pro enredo, mas a ilustração que é inspirada no livro é de Michael Zulli, um dos principais ilustradores de Sandman de Neil Gaiman (que por sinal, adora o livro).

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