segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Autoestima e Yamasterol


Eu nasci com cabelo cacheado e sempre adorei meus cachos, acho que é uma coisa da minha personalidade rebelde-ariana-atrevida, aquela coisa pueril de desafiar o mundo, porque né, nasci num mundo em que é errado não ter cabelo liso. E eu desafio isso todos os dias.




Personagens principais de filmes, novelas, desenhos animados (oi, Disney, sua linda), o que é vendido como a imagem do bom, do correto e do bacana é ter cabelo liso. Daí gerações de mulheres que passavam o cabelo com ferro, que faziam touca (prender os cabelos com grampos, tantas horas dum lado, tantas horas do outro), criaram filhas da nova geração, da era dos alisamentos e escovas (progressivas, inteligentes, de diamante, de safira, de placenta de foca), chapinhas e o desespero quando chove e, a cara amarrada pra quem deixa o cabelo natural, como eu. Adendo: não são todas, eu sei. Mas são várias, a maioria.

No meu convívio, poucas são as pessoas que têm cabelo cacheado natural. Todos os demais são alisados, poucos lisos naturalmente. E a maioria se sente incomodada com a minha audácia.  Gente jovem com que convivo (exceto minhas filhas, todas cacheadas e felizes) são pouquíssimas que têm os cabelos naturais (muitas inspiradas por mim ;)). Já fui alvo de indiretas maldosas sobre o meu cabelo, insinuações sobre como ficaria melhor alisado. Como faz muito calor nessa terra ensolarada que é o Ceará, estou sempre de cabelo preso, trança, mas quando solto, sempre tem um sem noção pra vir pegar no meu cabelo, como se fosse laranja em feira ou até mesmo, fazer comentários imbecis, do tipo, que meu cabelo tem piolho, porque cabelo cacheado seria sinônimo de cabelo mal cuidado. 

Quando eu era criança, minha mãe tinha preguiça de pentear meu cabelo, e me levava num salão pra cortar bem curtinho. E eu sonhava com meu cabelo comprido, cacheado e macio pra sacudir de um lado pro outro (já vivia em mim essa trava bate cabelo). A cabeleireira detestava meu cabelo, eu sentia que ela pegava nos meus cachinhos com nojo. Certa vez, uma senhora que esperava pra ser atendida, comentou que meu cabelo era lindo e a tal da cabeleireira falou que era cabelo ruim. Ou seja, eu tive todo o contexto pra crescer odiando o meu cabelo, odiando quem eu sou, uma garota negra de cabelo cacheado.

Pois aconteceu o contrário, aí é que eu peguei abuso dessa gente, e só de mal, cresci, me rebelei, me recusei a ir aquela porcaria de salão, a ser como queriam que eu fosse. Deixei, portanto, meu cabelón crescer cacheado e livre de química. E assim criei minhas filhas. 

Não deixe que o mundo maltrate você. É que nem Clarice disse, se permitir é o melhor da festa (na verdade, foi mais ou menos assim rs).

Este deveria ser um texto sobre as qualidades do Yamasterol (que é incrível e tem cheiro de década de 80 e festinha com A-Ha), mas está mais pr'uma Ode sem versos sobre a auto estima da teimosia capilar, em se deixar ser.

Bisous.



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Sejam educados, seus lindos!

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