quinta-feira, 18 de agosto de 2016

O Nevoeiro



Diferente do último filme resenhando, A Pirâmide, este eu não assisti de madrugada, mas sim numa tarde sem ter muito o que fazer ou com preguiça de fazer algo, além de assistir televisão. O engraçado é que sempre via este filme passando, mas nunca tive vontade de assistir. Ou coragem. Não que o enredo me assustasse (um nevoeiro maligno com coisas sinistras matando todo mundo), mas sim com medo de presenciar outro texto do Stephen King mal adaptado (e são muitos).

Normalmente, os filmes baseados na obra de Stephen King são ruins. bem ruins. Alguns muito muito ruins. As exceções ficam por conta de Carrie (do Brian de Palma) e O Iluminado (versão Kebruck, apesar de que Stephen King odeia a versão). Quando vi anunciarem mais uma adaptação (baseado numa novela no Tripulação de Esqueletos), pensei: lá vem bomba.

Mas, numa tarde quente de julho, resolvi assistir a versão para o cinema de The Mist, O Nevoeiro. Começa com uma violenta tempestade que devasta a cidade. David Drayton (Thomas Jane, de O Justiceiro), um artista local, corre com seu filho para o supermercado para comprar suprimentos e material para remendar uma das janelas de sua casa, destruída por uma árvore. Neste meio tempo, um estranho nevoeiro toma conta da cidade e acaba deixando David e mais alguns moradores locais presos dentro do supermercado. Logo eles descobrem que existe algo mais no nevoeiro, e sair dele pode significar a morte. 

Intimamente, O Nevoeiro é muitas coisas, e todas elas muito legais: começando pela clara influencia de  H. P. Lovecraft e William Golding; um ensaio sobre o horror na cultura; e uma reflexão sobre a fragilidade da civilização em tempos de crise. Quem espera ver um filme de monstros, com sangue para todos os lados, pode esquecer. Aqui, os monstros existem, mas praticamente não se pode vê-los. O único monstro (o pior de todos, talvez) que aparece a todo o tempo é o ser humano. Quando as pessoas estão trancadas naquele supermercado, começamos a ver a civilização em reverso, desde o começo, quando a pobre mãe implora que alguém a acompanhe para voltar pra casa, pra salvar os filhos, e todos se recusam, incluindo nosso herói, David, com a justificativa de proteger o próprio filho, no que ele falha miseravelmente.

Vemos uma volta à barbárie, o fanatismo religioso (na pele da Sra. Carmody, muito bem interpretada por Marcia Gay Harden) e a perda de parâmetros. O excesso religioso que (que algumas pessoas reclamaram), é um ponto muito bem abordado por Stephen King em sua novela. Por outro lado, trata-se também de uma reflexão sobre a fé, não apenas religiosa, mas a fé uns nos outros, no amor e no dever, na esperança de que tudo pode acabar bem. E também sobre a própria falta de fé. O desespero (conseqüência do medo do desconhecido) é capaz de transformar o ser humano em uma aberração, e apontar inimigos à sua volta parece ser a única saída para uma situação onde o que importa é sobreviver.

O final é ontológico, muito mais do que na novela.

SPOILER!
No filme, David, seu filho e mais dois sobreviventes conseguem sair do supermercado num carro, no entanto eles viajam até acabar o combustível e continuam encobertos pela névoa e cercado pelas criaturas. Sem trocar uma palavra, eles chegam a melhor solução possível: o suicídio coletivo. Só que restam apenas 4 balas e eles estão em cinco, ou seja, alguém vai sobreviver e ficar a mercê dos predadores infernais que dominaram o mundo. E para David a situação é mais dramática ainda, pois não basta se matar, ele tem que assassinar o próprio filho, só que no desespero não há outra saída. Seus amigos se suicidam e David atira no filho. Ele sai do carro, esperando que alguma criatura o ataque, mas aí ele percebe que os sons que ouvia do carro não eram mais as criaturas, mas sim o exército que deu um jeito de exterminar os monstros e estava escoltando sobreviventes, inclusive aquela mãe do começo da história. Na novela o nevoeiro não tem fim e os personagens ficam em um hotel abandonado, esperando o próximo capítulo, que não chega. 



Amei o filme e depois fui pesquisar quem estava por trás, e era ninguém menos do que Frank Darabont. Para quem não sabe, Darabont foi responsável por duas excelentes adaptações de textos de Stephen King: À Espera de um Milagre (The Green Mile) e Um Sonho de Liberdade (The Shawshank Redemption). Explicado ;).

Inté.

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