domingo, 14 de agosto de 2016

Feliz dia dos pais



Hoje é dia dos pais, uma data super comemorada pela mídia e comércio, só que é nesse mesmo comércio que a gente identifica o que todo mundo sabe, mas cala: mãe é mais significativo do que pai. Herança das culturas antigas talvez, basta lembrarmos dos milênios iniciais da nossa espécie, em que éramos matriarcado, em que nem se cogitava a participação masculina (pai) na criação das crianças. E se lembrarmos das metáforas clássicas de pais, a coisa fica bem tensa, tipo Chronos, Zeus e se procurarmos em outras mitologias, a coisa fica ainda mais sinistra.  Trazendo para nosso tempo, o dia das mães sempre vende mais, porque mãe é fundamental como construção social, porque foi designado que a vida de sacrifícios e dificuldades sempre será da mãe, que é recompensada com umas florzinhas no dia destinado a ela. E isso está errado como construto, mais uma prova de como nossa sociedade é doente.

Mas hoje falarei sobre essa coisa de ser pai, porque olha, eu tenho muita experiência nisso. Alguém que lê essa minha afirmativa deve pensar que não, eu não sou pai porque não sou homem (graças a tudo que é bom e que alumia!), mas vamos lá raciocinar: se ser pai for apenas ser um macho homo sapiens que engravida a fêmea, então eu não sou pai mesmo; contudo, se ser pai significa amar, prover, educar, cuidar, zelar, proteger em todas as instâncias, nunca abandonar, então, eu sou pai sim. Daí que vem uns psicólogos com uma conversa fiada de que a figura paterna não pode ser substituída. É? Deixe-me fazer um flashback da minha vida: várias empregos pra conseguir manter as contas da casa (pagas por duas mulheres, mãe e avó), resolver briga de garoto em escola (apartando os moleques e resolvendo tudo), incontáveis consertos domésticos (encanamento, fiação elétrica, fechaduras, montar móveis, pintar casa, trocar botijão de gás e água, empurrar carrinho de supermercado, abrir o pote de palmitos, carregar minhas sacolas), festas de dia dos pais na escola (pra receber as gravatinhas), defender as filhas de aliciadores nas ruas (prometendo quebrar a cara, inclusive). Tudo isso aí listado que, em geral, a sociedade brasileira destina aos pais, sempre foi a minha verdade, por mais que eu não considere que essas coisas classificam um pai. Mas a sociedade acha. E o mais engraçado é que basta o homenzinho fazer todas essas cosias que ele merece uma medalha. Mas se a mulher fizer todas essas coisinhas, fora o que a sociedade entende que é serviço de mãe (lavar, passar, cozinhar, cuidar do filho quando adoece, ensinar lição de casa), a mulher não fez mais do que sua obrigação.

E eu digo uma coisa: está errado. E se você não vê nada de errado nessa inversão, nessa perversidade, nessa desproporção no papel social da mulher, você é uma criatura toda errada. E que se exploda as convenções sociais.

Ser pai não é fazer filho, ou criar filho. Ser pai (assim como ser mãe) é um estado em que a natureza te coloca, de não conseguir viver, agir e sentir de outra forma que não para esse outro ser, que é colocado nas suas mãos para ser criado e crescer e, a partir daí, sentir uma imensa e completa empatia por todos os seres que precisam ser criados para crescer. Então, se você só é pai dos seus filhos e está pouco se lixando para as outras crianças, você é apenas um macho provedor.

Uma lista de possibilidades medonhas enquanto pais:

O mais óbvio, o pai que abandona porque se separou da mãe, e passa um tempo e não procura mais os filhos; ou apenas engravidou a mulher e não assumiu ao menos as responsabilidades morais: vocês são pessoas horríveis. E, se em outra fase da vida, casam e têm outros filhos e daí viram o tal do pai socialmente aceito, saibam que vocês continuam sendo um lixo, porque uma coisa não abona a outra.

O pai que se separa da mãe porque a traiu, enjoou, a paixão acabou, etc, Mas, este pai "maravilhoso" continua participando da vida dos filhos, mesmo sendo o causador de um trauma terrível que é a separação, porque toda separação é dolorosa, imagine então uma separação por conta de uma traição, e os filhos assistindo aquilo: briga por conta de guarda, visitas, pensão alimentícia, humilhações, a outra figurando em todas as pautas, quando a pessoa (mãe e filhos: porque a traição envolve a todos) só quer entrar num buraco e morrer. Você é uma pessoa horrível que acha que é legalzinha.

O pai que está casadinho, dentro de casa com os filhos, mas só de corpo. Não há relação emocional, e aquele filho cresce pra reproduzir, provavelmente, o que aprendeu que é ser pai. Você também é um lixo. Ah, tem o pai que trai a mulher, mas ainda fica dentro de casa, fazendo com que toda aquela humilhação se perpetue ad infinitum e tem aquele tipo monstro, que do mesmo jeito está em casa com a "família", mas agride de várias formas (verbal, física, moral) a quem deveria proteger. Não tem nem palavras pra classificar.

E tem aquele camarada que cresce, fruto de um pai desses tipo lixo, que poderia tentar ser melhor do que o pai foi com ele, mas não, ele vai reproduzir esse comportamento em alguma instância. Um exemplo bem comum são os filhos do primeiro casamento que odeiam os filhos do segundo casamento, só porque eles cometeram o crime de nascer. E se tiver diferença grande de idade, e herança, o ódio é ainda maior, porque na verdade se trata do ódio que aquele filho sentia daquele pai, que ele repassa pro meio irmão. Não importa se você é bom pai pros seus filhos, se você agir assim, você é um super lixo.

E tem o avô, que dizem por aí que é pai duas vezes, isso depende, porque se você é aquele avô que ao descobrir que o filho engravidou uma mocinha por aí, e daí o incentiva a não assumir ou ainda, ameaça, dizendo coisinhas fofas como, 'se seu filho depender de mim, morre de fome', você é um mega lixo.

Se você está nessa lista de pessoas lixo, de repente, se você largar tudo e virar voluntário numa missão humanitária a Síria e se colocar na frente de uma bomba, talvez você se redima. Mas é só talvez. Levando em conta que a maioria dos missionários, o são de coração, é essa empatia verdadeira que os faz agir de forma tão desprendida, isso já tira os nossos tipinhos de homenzinhos do perfil, ficando difícil o expurgo, então vocês merecem mesmo o inferno cristão.

Inté.

Imagem: Jack de O Iluminado, um exemplo de pai. 


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