sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Laranja Mecânica (livro e filme)



Dia desses uma aluna muito querida me perguntou sobre o Laranja Mecânica e fazia tanto tempo que eu não pensava sobre o filme e sobre o livro, que meio que me perdi em pensamentos e digressões acerca.

O Laranja Mecânica é um livro, antes de ser o filme do Stanley Kubrick. Seu autor, Anthony Burguess, escreveu e publicou em 1962, após receber um diagnóstico errado do tipo, você morrerá daqui uns meses, lamento muitíssimo. Eu já fui desenganada aos 21 anos então eu super sei como é.

Então, o tal livro é o Laranja Mecânica, um dos livros mais aclamados, e por que não dizer, atuais de todos os tempos, que foi imortalizado em 1971 pelo Kubrick na sua adaptação da história do depravado e demente Alex. Até hoje a história consegue impressionar pela violência e alienação ao som de Beethowen, ídolo de um jovem delinquente, que se vê a mercê da manipulação do governo e tem tirado de si seus bens mais preciosos: o sadismo e a perversão. 

E o nome Laranja Mecânica, donde vem? É duma expressão inglesa “as queer as a clockwork Orange” ou “tão bizarro quanto uma laranja mecânica” e é a definição dada a uma pessoa que, apesar da aparência normal e saudável, não possui vontade própria, vira uma marionete ou fantoche. Como é o caso do fofo #sqn, Alex DeLarge, que no livro é apenas um adolescente de 15 anos (no filme Alex é mais velho), que se encontra numa Inglaterra retro-futurista, onde a juventude não quer saber de nada, o governo aliena a população e a violência entre jovens chega a níveis absurdos. Lembra algo? Pois é. Mas eu também gosto da metáfora da laranja mecânica como algo natural que se coisifica. Eu fazia uma alusão ao suco de laranja industrializado, cheio de conservantes (modificado, coisificado) que até internalizei que os membros da gangue de Alex tomavam suco de laranja, mas não, é leite batizado. Aloka.

 Voltando ao Laranja Mecânica e sua “ultraviolência”, os jovens se vestem e se comunicam num dialeto próprio, dialeto esse que contém termos da língua eslava e de outros idiomas, denominado Nadsat.  O livro tem um glossário inclusivo, meus *druguinhos. A experiência de ler o livro nos faz sentir um pouco ignorantes à princípio: “naquela manhã de domingo, o chapelão leu trechos do livro sobre tcheloveks que haviam sluchado a slovo". Pois é. E Burguess queria mesmo causar essa sensação de estranheza com o seu Nadsat, ele queria que o leitor se aproximasse mais da situação que os adultos viviam em relação à juventude retratada no livro. O desentendimento e falta de sentido são peças chave para que se mergulhe no mundo de Laranja Mecânica.

 E o Alex? Ele é jovem, sem perspectivas, que não a maldade. Não é reprimido pelos pais, que deveriam reprimí-lo. Perfeito caso de alienação parental. Um rapazinho difícil, supostamente inteligente, apaixonado por música clássica, especialmente Ludwig Van Beethowen. É bonitinho e teria um futuro promissor, caso não fosse um psicopata. Um monte de gente acha o personagem de Alex charmoso e interessante. O mesmo tipo de gente que deve achar o Ted Bundy bonito e charmoso. Tanto o psicopata ficcional, quanto o real, para mim são dois idiotas perversos. Sinto abuso. Náusea. 

Alex é pego cometendo assassinato, daí é preso e vira cobaia num experimento do governo, que eu já citei. No filme de Kubrick, a cena do “Tratamento Ludovico” é eternizada tanto pelo impacto visual, quanto pelos gritos do ator Malcom McDowell. 

O livro é muito melhor que o filme? Na verdade é muito maior. Mas o filme ganhou uma dimensão assustadora, porque é uma adaptação incrível de um diretor incrível, que meio que alterou a paternidade da obra. É muito comum ouvir por aí "Laranja Mecânica do Kubrick" em vez de "Laranja Mecânica do Burguess". 

Mas Burguees está vivo, minha gente. Kubrick não. Burguess escapou de um tumor no cérebro. Kubrick, por ironia (ou não) morreu anos atrás muito doente, dum infarto fulminante, possivelmente por uma mandinga do Burguess, que o odiava. Euestoubrincando.

Assistam e leiam.

* drugues, gíria originada do russo ‘droogs’, que designa um grupo de jovens delinqüentes.

Bisous.


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